Dando continuidade à programação especial do Maio Verde, a Adperj sediou na quinta-feira (21) a roda de conversa “Por dentro da Violência Institucional contra as Mulheres”. Depoimentos chocantes de defensoras, profissionais da área da saúde, representantes de movimentos sociais e artísticos deram um panorama dos problemas gerados pelo preconceito de gênero no país.

Organizado pela coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da DPGE, Arlanza Maria Rodrigues, o debate busca ampliar a percepção do que e onde está a violência contra a mulher nas instituições e sociedade como um todo.

“Na Defensoria, é muito comum atendermos essas mulheres em situação de violência sem perceber que ela faz parte de um universo maior de violência. Essa falta de reconhecimento faz com que as instituições pratiquem, naturalizem e reproduzam o preconceito de gênero. Essa atenção ao tema não pode se encerrar no Núcleo de Direitos da Mulher, mas, sim, inserir-se na postura e ações da Defensoria Pública”, afirmou.

 

Um dos temas mais debatidos foi a violência obstétrica à que são submetidas mulheres na hora do parto. Desde o discurso médico que as amedronta, induzindo-as a realizar cesarianas desnecessárias, ao preconceito com mães jovens e pobres que dão à luz em hospitais públicos. “Procedimentos como amarrar a mulher na cama e realizar a episiotomia (corte feito no períneo) sem o seu consentimento são comuns. Estima-se que para cada quatro mulheres grávidas, uma sofrerá algum tipo de violência obstétrica no país”, contou a psicóloga e doula Gabriela Prado.

No caso das mulheres grávidas encarceradas, a situação é ainda pior. No estado, elas são obrigadas a dar a luz algemadas na cama. Â“É um absurdo o Estado alegar que a presa é uma ameaça, mesmo em trabalho de parto” – contou a coordenadoria do CDEDICA, Daniela Calandra.

Para a defensora e coordenadora do Núcleo contra a Desigualdade Racial (Nucora), Lívia Cásseres, o debate da violência contra a mulher também passa pelo corte racial. “Essa mulher que está encarcerada, no sistema socioeducativo e que está no hospital público é a mulher negra”,  falou.

Segundo ela, a Justiça não enxerga uma mãe em jovens do Degase ou da SEAP por falta de empatia. “A filha da promotora e da juíza não são negras, pobres, não passaram pelas mesmas situações, nem tiveram o mesmo tipo de escolhas ao longo da vida. Assim, não há qualquer empatia do sistema com essas mulheres. Elas são vistas como objetos” – afirmou a Defensora.

A roda foi a primeira etapa de um projeto maior do Nudem que prevê a ampliação da política de gênero no âmbito da DPGE-RJ.

(*) com Adperj



VOLTAR