Iniciativa voltada a pessoas em situação de rua oferece aulas de Português, Matemática, História e Geografia, além de palestras sobre Literatura
Marcio, Daniela e William dividem o mesmo sonho na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ): querem um dia ingressar na faculdade de Direito por decisão tomada a partir da participação no projeto Acelerando a Escolaridade, que leva pessoas em situação de rua para a sala de aula e que formou, na quinta-feira (14), 38 alunos com frequência registrada até dezembro. Em nove meses de curso, mais de 100 passaram pela iniciativa implementada na instituição com o objetivo de garantir a essas pessoas o acesso à Educação e de divulgar noções de cidadania, de saúde pública e a alfabetização.
Lançado em abril com aulas de Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia, o projeto também conta com palestras de Literatura e foi encerrado em 2017 com a entrega dos certificados de conclusão do curso cujas atividades serão retomadas já no dia 5 de fevereiro.
– Quero tentar o nível superior em Direito, porque já passei por muitas dificuldades na vida, e estudar em colégio municipal ou estadual para concluir minha escolaridade. Cursei até a 2ª série do Ensino Fundamental – destaca Marcio Prado da Silva, de 41 anos, que está no projeto há dois meses e há cerca de 15 anos vive nas ruas.
Sem moradia há dois anos e também aluna há dois meses, Daniela Delossi atualmente vive em abrigo e diz que a “Educação é o caminho.”
– Voltei a estudar porque sempre soube que a Educação era o caminho. Relembrar a Língua Portuguesa é bom para quem quer prestar um concurso público e para quem pretende arranjar um emprego, é bom para uma entrevista – comenta Daniela que, aos 44 anos, tem o Ensino Médio completo e também quer cursar Direito na universidade.
Entre os alunos que sonham com o nível superior no mesmo curso está William de Souza, de 39 anos e com quatro meses de frequência no projeto Acelerando a Escolaridade.
– Só estudando vou conseguir um lugar na sociedade, vou conseguir a dignidade de viver sem discriminação – diz.
Primeira edição
A solenidade de formatura da primeira edição do Acelerando a Escolaridade foi realizada no auditório da Fundação Escola da Defensoria Pública (Fesudeperj) com a presença de professores e funcionários envolvidos na iniciativa e do defensor-geral do estado, André Castro, que falou a alunas e alunos:
– É uma enorme satisfação para a Defensoria Pública encerrar essa etapa de um curso tão importante e tão inovador que vem sendo desenvolvido. O meu agradecimento a todas e a todos que transformaram o projeto em realidade e o meu agradecimento especial e os meus cumprimentos a cada aluna e a cada aluno que teve a motivação de vir, vencendo todas as dificuldades, para participar das aulas com muita disposição de aprender e de crescer. Vocês são os maiores homenageados dessa tarde – destacou André Castro.
Idealizadora do projeto, a defensora pública aposentada Sara Quimas também ficou orgulhosa:
– A importância da conclusão do curso para os alunos tem um significado próprio porque eles venceram várias dificuldades para que estivessem presentes em sala de aula até o final. Foi um desafio em que foram vitoriosos e no qual se saíram muito bem – observa Sara Quimas, atualmente aluna de Letras (Português/Literatura) na Universidade Veiga de Almeida.
Professores orientadores
Lançado em parceria com a Fesudeperj, com o Centro de Estudos Jurídicos da DPRJ (Cejur), com o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da DPRJ (Nudedh) e com o Centro Pop Barbara Calazans do Município do Rio de Janeiro, o projeto Acelerando a Escolaridade conta com aulas ministradas por professores orientadores, ficando a Alfabetização com Sara Quimas, a Língua Portuguesa com a pedagoga Ana Lucia Ometto e a professora Fátima Galvão Ventura; Matemática com o contador Marcelo de Brito Simões; Geografia com o cabo da Polícia Militar Elter Matias; História com o sargento do Exército Bruno Branci e com Maria Helena Castro Azevedo, professora aposentada e licenciada na matéria; e Literatura com Sandra Guimarães, da Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Ao longo do ano também foram realizados passeios aos seguintes lugares: Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista; Associação Brasileira de Letras; Museu do Amanhã; Planetário da Gávea; Centro Cultural Banco do Brasil e ao teatro para a peça “Diário de Bitita.” E foram apresentadas palestras sobre temas como estrutura do estado, a importância do direito ao voto, os direitos da população em situação de rua, benefícios previdenciários e saúde pública, entre outras.
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Texto: Bruno Cunha
Fotos: Fernanda Garcia
A entrega dos certificados de conclusão do curso marcou o encerramento do ano letivo
Os certificados entregues para alunas e alunos do projeto