Nascido e criado no Morro da Providência, local histórico onde surgiu a primeira favela do Rio  de Janeiro, o jornalista, escritor e roteirista Jeferson Pedro (40) trabalha desde 2014 como assessor de cerimonial na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Em geral bem humorado e dono de um sorriso largo, Jef – como é chamado pelos colegas – assume um ar mais sério quando fala do seu trabalho de criação. Ele é comprometido com questões que envolvem a luta das chamadas minorias, mais especialmente com a luta a favor de igualdade racial, contra o preconceito e pela promoção da cultura afrodescendente. Jef leva muito a sério a ideia de contribuir para amenizar a dureza da vida de quem sofre na pele os dramas populares.

– Nasci no morro e acredito, por isso, que tenho obrigação de usar a arte para dar voz às minorias. É importante mostrar a realidade com uma outra face, pincelada com alguma poesia, para amenizar a dureza que é a vida nas periferias – comenta durante entrevista no seu posto de trabalho, na sede da Defensoria Pública.

Jef conta que na infância já demonstrava inclinação para as letras, período em que começou a fazer poesia. Imaginou que se tornaria professor. O seu ano iluminado, como ele mesmo diz, foi 2012. Quatro anos atrás, participou da Festa Literária das comunidades pacificadas com UPPs (FLUPP), que resultou na publicação do "FLUPP pensa 43 novos autores", livro de contos de autores oriundos de comunidades e periferias do Rio de Janeiro. O seu conto, intitulado "Levando um violão", trata a história de um morador de morro, negro descendente de escravos, que toca violão para expressar os seus sentimentos. No mesmo ano, Jef escreveu o argumento e o roteiro do seu primeiro curta metragem: "Danúbio Azul" (12'), que foi produzido pela ONG Cinema Nosso.   
 

No currículo, Jeferson tem o curso de Jornalismo na Unicarioca, especialização em comunicação empresarial na Cândido Mendes e pós-graduação em jornalismo cultural na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, além de cursos profissionalizantes de roteiro. Antes de iniciar seu trabalho na Defensoria Pública, foi assessor de Diego Maia, especialista em vendas e gestão que apresenta o programa "Mundo Empresarial", na rádio MPB FM (RJ 90,3). 

Mais recentemente, Jeferson trabalhou no argumento e no roteiro do curta "Tião" (13'), que foi produzido com um grupo da turma do curso Cinema, Criação e Pensamento da PUC Rio. "Tião" vem conquistando uma boa exposição. Sua estréia aconteceu no Tempo Glauber, em Botafogo, no final do mês de setembro deste ano. O filme também foi exibido no Plateau, Festival Internacional de Cinema Praia de Cabo Verde; na Casa França Brasil, incluído na programação da exposição Orixás, em outubro; no Cine Tamoio, durante o 1º Festival de Cinema de São Gonçalo, em novembro; e no Cine Mate com Angu, em Duque de Caxias.

"Tião" é inspirado no santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, São Sebastião, que na imaginação de Jef surge na pele de um negro, na atualidade. O personagem percorre a cidade. Da Zona Sul, o personagem segue rumo ao subúrbio, numa viagem de trem até Bonsucesso, chegando ao Complexo do Alemão.

Jeferson mantém compromisso com seu trabalho criativo diariamente. Depois de cumprir a jornada de trabalho na Defensoria Pública, ele dedica cerca de duas horas por dia, antes de dormir, à produção literária. Prefere escrever à mão, num caderno de ideias. Sua meta é escrever uma novela. Jef revela que atualmente está trabalhando no mito de Dandara, mulher que foi companheira de Zumbi. Já tem quinze capítulos concluídos. Ele fala com entusiasmo sobre Dandara: um drama popular que mostra a história de uma mulher negra e pobre que nasce durante uma rebelião num presídio.

Dentre os seus autores preferidos, Jef cita Lima Barreto, Machado de Assis, Sidney Sheldon e o moçambicano Mia Couto, que o inspirou a começar escrever Dandara. Os diretores de cinema que tem como referência são o espanhol Pedro Almodóvar, o norte-americano Woody Allen, o pernambucano Cláudio Assis, o paulista Fernando Meirelles e o carioca José Padilha.  
  
O teatro e o carnaval também são espaços da expressão criativa de Jef. Ele é autor da peça Bater-fly, escrita com o coletivo Gambá Pensador para a ONG Teatro Ecoa, em 2014. Em se tratando de samba enredo, o assessor de cerimonial da DPRJ colaborou na pesquisa de enredo do G.R.E.S. Império Serrano (2015 e 2016) e do G.R.E.S União da Ilha (2017). Esta colaboração mais recente resultou no samba "Nzara Ndembu – Glória ao senhor tempo".



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