DPRJ exibe filme sobre requalificação civil de jovens trans
Cinema e educação em direitos marcaram o fim de tarde na Defensoria do Rio nesta terça-feira (24), com a exibição do documentário "O Amor Transcende". O filme, produzido pelos jornalistas Hélcio Albano e Cristiana de Souza, retrata a realidade de crianças e adolescentes trans na busca pela requalificação civil. A exibição ocorreu no auditório do segundo andar da sede administrativa da Defensoria, reunindo defensoras(es), servidoras(es) e convidadas(os).
A iniciativa foi promovida pela Coordenadoria-Geral de Programas Institucionais e teve como patrocinadores a defensora Mirela Assad, coordenadora desse órgão, e o juiz de direito, André Britto. O documentário acompanha o Mutirão da Requalificação Civil de Gênero, realizado no dia 26 de julho de 2024, no Juizado da Infância e da Juventude do Sambódromo do Rio de Janeiro. Na ocasião, 106 crianças e adolescentes de diversas partes do Brasil puderam retificar seus registros civis, garantindo a adequação de seus nomes e gêneros à sua identidade.
– A ideia do documentário surgiu a partir de uma demanda trazida pela doutora Mirela e pelo doutor André. Antes do convite para o mutirão, eles participaram do nosso programa de rádio em São Gonçalo para divulgar esse trabalho. Depois, os convidamos para um seminário sobre a causa LGBT na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e foi nesse evento que surgiu o convite para que produzíssemos o documentário – explicou a jornalista Cristiana de Souza.
Diferente do uso do nome social, a requalificação civil permite que a população trans tenha o nome de registro retificado em seus documentos permanentemente, como a certidão de nascimento, assegurando uma série de direitos e, principalmente, o respeito.
Para Hélcio Albano, diretor do filme, além do caráter jornalístico, o documentário também cumpre um papel social importante.
– Nós buscamos temas relevantes para informar o público, principalmente aqueles que carregam certo ineditismo, como esse mutirão que ocorreu no Rio. Mas, além disso, temos um compromisso com causas sociais. Acreditamos que o jornalismo pode ajudar a combater preconceitos, estigmatizações e a invisibilidade que a população trans enfrenta. Esse documentário nasceu da necessidade de registrar e dar visibilidade a essa luta – destacou.
Expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos
Após a exibição do documentário, o evento seguiu com uma roda de conversa sobre a temática. Neste momento, pessoas trans e profissionais da área compartilharam suas experiências, lutas e a esperança por dias melhores.
– A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos. Estamos aqui resistindo. Foi muito emocionante acompanhar as histórias dessas crianças e ver que elas estão acessando seus direitos logo cedo, coisa que eu não tive a oportunidade. O nosso desejo é que elas não passem o que nós passamos – relatou Micaela, uma mulher trans de 28 anos.
Nesse sentido, a defensora Mirela Assad também parabenizou a iniciativa do documentário e compartilhou sua experiência e transformação pessoal em relação ao tema.
– Dez anos atrás, eu não compreendia a realidade das crianças e adolescentes trans. Hoje, além de aceitar e entender, busco atuar para garantir os direitos dessa população. A identidade de gênero não tem relação com modificação corporal, e a ciência já provou que uma criança trans pode reconhecer sua identidade de gênero a partir dos 24 meses de idade. Quando negamos esse direito, muitos são expulsos de casa e empurrados para a marginalização – explicou a defensora.
Texto: Jéssica leal.
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