Vilarejo de Pouso da Cajaíba, em Paraty

 

O dia amanhece chuvoso em um pequeno vilarejo onde vivem aproximadamente 70 famílias. Um dos moradores do local precisa de socorro médico urgente e, apesar do posto médico reformado, no local não há medicamentos ou profissionais disponíveis para atender quem mora ali. Em desespero, a família chama o bote socorrista do SAMU, que, com o mar agitado, não consegue chegar até a comunidade para realizar os atendimentos. A tarefa fica sob responsabilidade dos pescadores da região, que resgatam os enfermos e enfrentam duas horas de mar perigoso para poder encontrar atendimentos de emergência médica.

O relato acima pode parecer de um filme de ação, mas é a realidade vivida por moradoras e moradores de Pouso da Cajaíba, em Paraty, Costa Verde do estado do Rio. A dificuldade de acesso à saúde é apenas um dos problemas enfrentados pela população local, que recebeu o projeto Defensoria nas Ilhas no último sábado (06). A iniciativa da DPRJ tem por objetivo efetivar o acesso à justiça a quem vive nas ilhas, principalmente em áreas distantes dos equipamentos da instituição. 

Ao todo, 43 pessoas foram atendidas na ação em Pouso da Cajaíba com demandas cíveis, de família e do consumidor. Também foi possível a realização gratuita de exames de DNA.

Atendimento da Defensoria Pública no vilarejo. Escuta ativa da população.

 

Para o defensor público André Bernardes, titular do Núcleo da Família de Angra dos Reis, a visita a Pouso da Cajaíba foi importante para apurar as necessidades da população desta área costeira e cobrar ações do município Paraty.

—  O poder público municipal precisa melhorar o fornecimento do serviço de transporte, educação e saúde à população de Pouso da Cajaíba. Nós, defensores públicos participantes da visita, vamos nos reunir para traçar a estratégia de atuação na defesa da comunidade. — relata Bernardes.


Educação somente até o ensino fundamental 

Quadro de aviso sobre aulas de reforço na escola pública de Pouso da Cajaíba, em Paraty

 

A Escola Municipal que atende Pouso da Cajaíba possui 38 alunos, divididos em turmas multisseriadas: estudam de manhã, juntos na mesma sala, os estudantes do 7° e 8° ano, e, na outra turma, à tarde, os do 5° e 6° ano. As quatro professoras da escola se dividem para atender as alunas e alunos e precisam gerir uma sala de aula com mais de uma série escolar ao mesmo tempo.

Para Richard Ramos, pescador caiçara da costa, o sonho de ver o filho se tornar um advogado é algo distante:

— Queria que meu filho se tornasse um advogado, para saber o nosso direito e defender a população caiçara. Para meu pequeno ir até a cidade estudar além do 9° ano, preciso gastar pelo menos R$200 por dia de combustível e não tenho essa condição — contou Richard, emocionado.


Dificuldades no acesso a saneamento básico e energia elétrica

A água potável de Pouso da Cajaíba vem direto de uma nascente local. A população relata, no entanto, que o esgoto da região não recebe nenhum tratamento por parte do poder municipal, restando às moradoras e moradores caiçaras a construção e manutenção de fossas e sumidouros:

— Nós mesmos realizamos o saneamento. Construímos os sumidouros e as fossas com pedras, para descartar o esgoto. Fazemos o nosso máximo para poluir o mínimo — disse o morador Valdinei de Souza.


Outro problema recorrente na região é a falta constante de energia elétrica. Apesar de estar conectada com as redes elétricas desde 2016, a população de Pouso da Cajaíba ainda sofre com as quedas no fornecimento. No carnaval deste ano, a região ficou quatro dias às escuras, causando grande prejuízo a moradoras(es), que tiveram seus alimentos estragados. 


— Uma vez ao mês viajamos para fazer a compra de alimentos no mercado em Paraty, porque aqui só existe uma padaria. Se faltar luz, como faltou no carnaval, perdemos tudo. E, para tudo, ainda temos o combustível gasto para ir até a cidade — conta Eda Maria Fernandes, de 77 anos, moradora da comunidade.


O Defensoria nas Ilhas realizado em Pouso da Cajaíba foi a terceira ação do projeto realizada em 2023. Ao todo, serão 10 ações até novembro. Ilha Grande, Itacuruça e Mangaratiba são os outros locais da Costa Verde que receberão atendimentos ao longo do ano. Além dos atendimentos individuais, ao final de cada ação, serão feitos relatórios para encaminhamento aos Núcleos de Tutela Coletiva.

 

Veja as fotos aqui

Texto e fotos: Matheus Reis



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