Quando Luana Borges, 37 anos, sentiu fortes dores no ventre no dia 13 de dezembro de 2022, não podia imaginar a reviravolta que sua vida teria naquela tarde. Luana estava no trabalho, na Barra da Tijuca, quando começou a passar mal e saiu para caminhar. Entre um passo e outro, as dores aumentaram e ela, já mãe de outros dois filhos, entendeu que iria parir mais um.
Completamente sozinha, Luana teve seu filho na rua, à sombra de uma árvore entre carros estacionados.
- Na hora eu não conseguia pensar. Não estava entendendo nada. Não sabia que estava grávida e fiquei imaginando o que meu marido iria pensar e como eu iria explicar uma história que nem eu mesma sabia ao certo qual era – conta Luana em uma entrevista que seria interrompida muitas vezes para que ela pudesse enxugar as lágrimas.
Com o filho mais novo nos braços, desesperada e com medo, Luana não sabia o que fazer e resolveu deixar o menino ali, no estacionamento de um hotel na Barra da Tijuca, local que, no momento, ela imaginou ser um hospital.
- Deixei ele ali para que fosse bem cuidado. Eu sou mãe e já era mãe quando ele nasceu. Eu nunca abandonaria um filho. Eu vivo meus dias arrependida pelo que fiz.
Além do bebê nascido no dia 13 de dezembro, Luana é mãe de um menino de quatro anos e de uma jovem de 18. Entre o nascimento dos dois, em 2017 Luana viveu uma de suas piores dores: viu uma filha, recém-nascida, morrer no hospital, com apenas 12 horas de vida.
- A dor de ver um filho morto parece insuperável. Naquele momento, eu tive minha irmã, Michele, ao meu lado. Ela sempre foi meu apoio na vida - conta.
O apoio dado por Michele em um momento tão difícil se repetiu no final do ano passado. Luana afirma que, após deixar seu bebê no estacionamento do hotel, chegou em casa e contou o que havia feito para sua família. A irmã, então, logo se prontificou a entrar com processo de guarda.
O caso de Luana ganhou as páginas da imprensa no final do ano passado. Acusada de abandono, ela conta que viu na Defensoria do Rio o caminho para tentar reparar o que havia feito em um momento de desespero.
- Minha irmã foi à Vara da Infância e logo foi atendida para que a gente tentasse recuperar meu menino. Desse atendimento, a gente começou a recontar a nossa história.
O pedido de guarda feito pela irmã de Luana foi realizado no dia 22 de dezembro. A família foi atendida pela Defensoria durante o Plantão de final de ano na Vara da Infância e Juventude da Capital. Para a defensora pública Letícia Kirchhoff, que fez o atendimento, a rapidez no encaminhamento do processo é fundamental em casos sensíveis como esse.
- Ajuizamos a ação de guarda pela tia materna, que impactada com a situação de seu sobrinho só desejava que o bebê fosse reintegrado ao seu lar. Naquele momento, nós só esperávamos que a história tivesse um final feliz, com o pequeno bebê recebendo os cuidados afetivos que tanto precisa junto com a sua família, diz a defensora.
O final feliz da história de Luana e sua família, que começou a ganhar contornos no atendimento da DPRJ na Vara da Infância da Capital, teve um novo capítulo com o resultado do exame de DNA, também feito pela instituição. Com o resultado positivo e comprovação do vínculo familiar, as visitas ao menino foram liberadas. Mãe, pai e filho começaram, finalmente, a se conectar.
- Vimos ali uma história triste, com uma mãe, uma mulher trabalhadora, arrependida do que fez em um ato de desespero. Ouvimos o que eles tinham a contar e explicamos sobre como poderíamos ajudar. Toda a família ali necessita de acolhimento, conta Andrea Cardoso, coordenadora do Núcleo de DNA da Defensoria do Rio.
As visitas ao bebê duraram quase dois meses. Primeiro, a família ia ver o menino na Maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca, onde ele recebeu os primeiros cuidados. Depois, o garoto foi encaminhado para um abrigo. A decisão pela reintegração do pequeno à família, proferida em janeiro deste ano, foi o passo final para que tudo terminasse bem.
- Pegar o meu bebê nos braços e poder levá-lo para a casa, para a nossa casa, para a casa dele, foi uma das maiores emoções que já vivi. A culpa me ronda todos os dias mas, depois de tudo o que passei e de tudo o que fiz, conseguir cuidar do meu filho é o melhor recomeço que eu poderia querer - conclui Luana.