Realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC),
o projeto “Defensoria Cumprindo o Seu Papel na Educação”
teve a primeira edição do ano promovida na sexta (24)

 

Os casos de agressão entre alunos e de buylling e também de depressão e ansiedade relacionada a problemas familiares chegam com frequência ao conhecimento dos educadores de Niterói e da Região Oceânica que, nesta sexta (24), estiveram no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho para o lançamento da primeira edição do ano do projeto "Defensoria Cumprindo o Seu Papel na Educação". Em solenidade realizada com a presença de autoridades, diretores, coordenadores e demais profissionais em exercício na área, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) e a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) deram início às atividades do projeto voltado ao diálogo para a resolução de conflitos nas escolas estaduais. O encontro aconteceu na unidade de ensino que em março sofreu uma ameaça de ataque e que, além de contar atualmente com mais de mil estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, é referência na região para a formação de professores.

– Convocamos os alunos à época do acontecimento e fizemos uma grande roda de conversa em parceria com algumas universidades para também trazer profissionais multidisciplinares. Estamos promovendo, desde então, atividades pontuais com o objetivo de ouvi-los e orientá-los. O diálogo é sempre o melhor caminho para isso –observa a orientadora educacional e professora de matérias pedagógicas do Instituto de Educação, Fátima Brandão, continuando: “Antigamente a gente nem tinha a dimensão de que conflitos pudessem ocorrer nas escolas porque era tudo muito diferente. Hoje observamos a grande quantidade de estudantes em situação de vulnerabilidade social”, comenta a também ex-aluna da unidade já com os seus 25 anos de magistério.

Chamando atenção ainda para a diversidade de situações em que a mediação deve ser empregada, Fátima acompanhou as palestras ministradas por defensores para os 80 educadores presentes no projeto realizado na unidade de ensino localizada no Centro de Niterói. Com a segunda edição já marcada para o mês de junho em São Gonçalo, a iniciativa visa valorizar e conscientizar os gestores da Educação por meio de debates promovidos com o objetivo de ajudar na transformação social de forma positiva no ambiente escolar.

– Esse projeto começou há alguns anos em São João de Meriti por iniciativa própria da defensora pública Sabrina Castro que, na época, procurou a Secretaria Municipal de Educação e firmou parcerias viabilizando a iniciativa. Depois foi levado a cidades do Interior e entre elas está Duas Barras, onde a atuação do defensor público Marcelo Carletto resultou em Projeto de Lei que prevê a realização de uma série de exames médicos para os alunos da região e, hoje, o Defensoria Cumprindo o Seu Papel na Educação chega à rede estadual. Não acreditamos no acesso à Justiça isoladamente nos gabinetes. A gente acredita na parceria e no diálogo com as instituições – destacou na abertura do evento o defensor-geral do Estado, Rodrigo Pacheco.

Também presente na mesa de abertura da solenidade juntamente com Pacheco, a chefe de gabinete da DPRJ, Carolina Anastácio, estava bastante emocionada e em seu discurso chamou atenção para o fato de que a educação em direitos está entre as missões legais da Defensoria Pública. A defensora disse que as palestras previstas para o projeto abordam temas de relevância na sociedade muitas vezes em andamento no cotidiano letivo.

– Essa é uma escola de referência na formação de professores e isso torna muito simbólico o lançamento da primeira edição do projeto. A Defensoria com certeza está se sentindo em casa no Instituto de Educação e com a iniciativa hoje iniciada na rede estadual quer somar, dialogar e se mostrar ainda mais parceira das escolas e dos educadores – observou Carolina.

Para o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, a sociedade vive momentos de instabilidade em que “medidas como essa precisam estar cada vez mais próximas e presentes para que a gente possa dar um suporte e um respaldo aos alunos e profissionais das escolas”.

– Há um aumento significativo e muito preocupante de tentativa de suicídio por parte dos nossos alunos, de mutilações, depressão e de indisciplina e violência no ambiente escolar como nunca foi visto antes. Isso mostra a importância e a necessidade desse trabalho para que a gente possa avançar e criar um ambiente escolar muito mais harmônico e seguro para todos os profissionais e alunos – destacou Pedro Fernandes.

Menina cortou os braços com gilete

Os casos citados no encontro são com frequência comunicados à direção das escolas ou até mesmo observados na hora por educadores como já aconteceu com a coordenadora pedagógica Maria Angélica Calábria. Atuante no Colégio Estadual Almirante Tamandaré, em Piratininga, ela passava pelo corredor quando percebeu que algo acontecia com uma estudante do 6º ano com as mãos trêmulas. Ao abordá-la perguntando se queria conversar, a menina de cerca de 12 anos levantou as mangas do casaco e mostrou o braço cortado por ela mesmo com gilete.

– Tomei um susto muito grande porque nunca tinha visto aquilo na vida, e a abracei. Depois conversamos e ela contou que passava por problemas familiares. Outro caso aconteceu com uma aluna do Ensino Médio que toma remédios para dormir porque está com ansiedade: é lésbica e não consegue conversar com o pai sobre o assunto. A escola sempre dá apoio e assistência aos alunos, estamos à disposição para ouvir e dialogar – frisou Maria.

Um assunto também em evidência nas escolas é a questão das postagens na internet e a diretora-adjunta Maria Celeste Paiva chamou atenção para isso. Em exercício no Colégio Estadual Brigadeiro Castrioto, em São Francisco, ela acompanhou o caso de um aluno que, após dar selinho na amiga, foi acusado de abuso nas redes sociais e ficou sem ir à escola durante uma semana porque o boato se espalhou de tal forma que estudantes de outro colégio queriam agredi-lo.

– Trabalho com alunos do Ensino Médio que estudam em horário integral, e muitos não sabem lidar com a internet e não têm ainda a consciência da responsabilidade nas postagens. Acompanho também casos envolvendo ansiedade e depressão e uma boa roda de conversa é sempre bem-vinda juntamente com o diálogo cotidiano –frisou.

Iniciado às 8h30 com um café da manhã de boas vindas antes da abertura do projeto, o encontro realizado nesta sexta seguiu com a apresentação da palestra “Prevenção e Transformação de Conflitos” pela coordenadora de Mediação da DPRJ, Christiane Serra; pela subcoordenadora de Mediação, Júlia Luz; e pelo defensor público Daniel França, titular da 2ª Vara de Família de Santa Cruz e também formado em Psicologia.

À tarde foi proferida a palestra “Conflito nas Relações Familiares” pela defensora pública Cristiane Mello, titular da 4ª Vara de Família de Niterói; e pela defensora pública Simone Gusmão; titular do Núcleo de Primeiro Atendimento de Niterói. Em seguida, a coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher, Flávia Nascimento; apresentou a palestra “Violência Contra a Mulher” e, ao final, a defensora pública Maria Carmen de Sá, atuante na Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDEDICA) falou com os educadores sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Também estiveram presentes na mesa de abertura do evento a diretora de Capacitação do Centro de Estudos Jurídicos (CEJUR), Adriana Britto; a subouvidora-geral, Karina Jasmin; a subsecretária de Gestão de Ensino da SEEDUC, Cláudia Raybolt; e o coordenador de Gestão Intersetorial da SEEDUC, Charles Castro.

Texto: Bruno Cunha

Fotos: Leticia Maçulo

O defensor-geral Rodrigo Pacheco (de terno) e o secretário estadual de
Educação, Pedro Fernandes, com demais integrantes da
mesa de abertura do evento

 

Maria Angélica e Maria Celeste defendem o diálogo como
ferramenta eficaz para a resolução de conflitos

 



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