A Defensoria Pública do Rio de Janeiro vai monitorar de forma contínua a situação no Complexo do Alemão e implantar um regime de assistência permanente à comunidade. Nesta terça-feira, representantes do órgão foram verificar in loco a realidade local. Em conversa com moradores e lideranças, foram constatados diversos casos de violação de direitos humanos e atos de violência. As marcas do terror à que a população da área é submetida pôde ser comprovada em cada beco e viela percorridos. Nas fachadas das casas, perfurações à bala evidenciam o cenário de guerra.

A incursão na comunidade foi feita pelo 2º Subdefensor Público-Geral do Estado, Rodrigo Pacheco, e pelo coordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria, Fábio Amado, que vistoriaram o local onde o menino Eduardo de Jesus Ferreira, de apenas 10 anos, foi assassinado na semana passada. O crime causou comoção e expôs ao país a situação caótica que vem sendo enfrentada de forma silenciosa pelos moradores ao longo dos últimos meses.

“Há um quadro de conflito armado declarado, com diversas casas e escolas perfuradas por bala e sinais claros da ausência de políticas públicas. Há lixo por toda parte e acesso ainda precário à educação, lazer e moradia”, ressalta o coordenador do Nudedh.

Na conversa com moradores, que precedeu a caminhada pelos becos, os defensores ouviram diversos relatos de violência. Muitos preferiram não se identificar, por temer retaliações.

Foi o caso de uma moradora de 27 anos que teve a casa invadida por policiais militares quatro vezes em um período de seis meses. Nascida e criada no Alemão, ela disse que a presença da Defensoria na comunidade traz a sensação do amparo jurídico.

É exatamente este o objetivo da presença ostensiva da Defensoria no Complexo. “Nosso posicionamento é proativo. Vamos procurar a comunidade para prestar nossos atendimentos sempre que houver necessidade”, comprometeu-se o defensor Rodrigo Pacheco.

Presidente da ONG Educap (Espaço Democrático De União, Convivência, Aprendizagem E Prevenção), Lúcia de Fátima Cabral comemorou a presença dos defensores no Complexo. “É importante ter uma Instituição como a Defensoria Pública para somar na luta pelos direitos da nossa comunidade”, disse Lúcia, que mora no Alemão há 48 anos e há 30 trabalha em defesa dos direitos humanos.

A visita durou toda a tarde desta terça-feira, em uma demonstração da aproximação da Instituição com os seus verdadeiros destinatários. “Estamos confirmando a nossa disponibilidade e atenção à comunidade para garantir os seus direitos constitucionais”, explicou Amado. Já nesta sexta-feira (10), os defensores farão uma nova visita ao Complexo.

Para Renata Trajano, moradora da comunidade há 21 dos seus 35 anos, a solução para os conflitos é o investimento na política pública e a chegada da Defensoria é um importante passo nessa direção. “Precisamos de parceiros para atuar na comunidade”, afirma.

O Conjunto de Favelas do Alemão fica na Zona Norte do Rio e reúne 15 comunidades. Nas últimas semanas, confrontos entre policiais e traficantes resultaram na morte de quatro moradores e ferimentos em pelo menos outros três. Sete policiais militares também foram baleados. 



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