O abuso de drogas, o marco jurídico e os meios de comunicação estiveram em pauta na manhã desta sexta-feira (21) como temas da sexta e penúltima aula do Curso de Capacitação Política de Drogas, promovido pelo Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) em parceria com a Fundação Escola da Defensoria Pública do Rio (Fesudeperj).

Os assuntos foram explorados pelos jornalistas Chico Otávio, repórter especial do jornal O Globo, e Bruno Torturra, um dos fundadores da Mídia Ninja, que de entrevistadores passaram a entrevistados em uma espécie de grande “coletiva” comandada pelo público presente.

Questionado sobre a abordagem da imprensa em relação às drogas, Chico  Otávio traçou uma linha evolutiva das redações. Segundo ele, as reportagens policiais eram "contaminadas" pelas delegacias e pela visão da Polícia e seus jargões, sem a preocupação e o cuidado do repórter em ouvir o outro lado da história e de buscar entender o funcionamento das políticas de Segurança. Para ele, a prática só começou a mudar no final dos anos 80.

- A mudança foi provocada pelo processo de redemocratização do Brasil e pela Constituição de 88, fazendo com que as redações se tornassem mais plurais. Foi quando a ética chegou para ficar na cobertura de Polícia, que, inclusive, passou a ser de Segurança Pública – comparou o repórter de O Globo.

O resultado da mudança, de acordo com Chico, ainda acontece e pode ser observado na cobertura de acontecimentos como o julgamento da descriminalização do porte de drogas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

- No jornal O Globo, a cobertura deixou de ser feita pela editoria de Polícia e passou para a de Sociedade, criada há pouco tempo com uma visão muito mais social e menos policial, porém, especializada no ponto de vista da Saúde Pública. É lógico que ainda não chegamos ao melhor dos mundos, mas, de qualquer maneira, estamos fazendo uma coisa muito melhor e muito mais plural em relação ao passado - destacou.

Já Bruno Torturra, atualmente jornalista do Estúdio Fluxo, em São Paulo, por várias vezes reforçou a importância em não aceitar o paradigma proibicionista para a compreensão das drogas, tema bem mais amplo do que a restrição legal incide sobre elas, segundo disse.

- Independente da proibição, da legalização, da posição que a pessoa tem em relação ao marco legal que rege essas substâncias, o que me parece ser mais importante é pensar sobre isso, analisar, tomar decisões, elaborar opiniões a partir de uma visão panorâmica do problema, das possíveis relações dos seres humanos, do que a medicina e a Antropologia de fato dizem. É importante escutar os assistentes que trabalham na ponta, as pessoas que usam, quem têm problemas e quem não têm. Essa é a essência para se pensar sobre o assunto, seja um defensor público, um policial, um jornalista ou um usuário - opinou.

A última aula do curso acontecerá na próxima sexta-feira (28), das 9h ao meio-dia, com Leon Garcia. O diretor de articulação e coordenação de políticas sobre drogas da Senade/MJ abordará o tema Política Nacional de Saúde Mental e a Rede de Atenção Psicossocial no Sistema Único de Saúde.  Aos alunos de Direito serão atribuídas três horas de estágio pela OAB.

Texto: Bruno Cunha

Foto: Erick Magalhães



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