Samuel Diogo de Jesus (27) é analista de sistemas na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Trabalha na Diretoria de Sistemas de Informática (DSI), desde agosto de 2012, quando foi nomeado como assessor de departamento DAS 07. Nos últimos anos, ele esteve envolvido com importantes projetos de modernização no sistema de informação da DPRJ.  Trabalhou na implantação da folha de pagamento, do sistema de controle da recepção na sede administrativa e da criação do portal da transparência da instituição. E mais: desenvolveu a codificação do próprio portal da Defensoria Pública.

– Hoje eu vejo o assistido sendo melhor atendido através do meu trabalho. Quando alguém me pede informação sobre o serviço da Defensoria, eu falo para a pessoa procurar no site porque sei que vai encontrar lá aquilo que precisa. Coisa que há dois ou três anos atrás era impossível – orgulha-se Samuel.  

O sotaque ajuda a revelar que o moço é mineiro, e de Belo Horizonte. Samuel aproxima-se do Ser Mineiro retratado pelo poeta, do tipo que "não dá rasteira no vento, não pisa no escuro, não anda no molhado". Ele sabe bem por onde anda e é perspicaz nos dilemas da vida. Trabalha desde os sete anos de idade e ganhou o pão de cada dia das mais variadas maneiras antes de chegar até a sala da DSI, no terceiro andar da sede da DPRJ, na  Avenida Marechal Câmara. Está se aprimorando na área de TI – Tecnologia da Informação – e, no que depender da sua própria disposição e vontade, vai ao infinito e além.

Samuel foi missionário evangélico mirim, arrumador de frutas em sacolão, vendedor de pães e bolos em carrinho de mão, montador de cadeiras de cinema... Ele se virou como pôde. Aproveitou cada porta que se abriu diante dele. E que ele mesmo abriu. Deu os primeiros passos na informática oferecendo-se para assistir, voluntariamente, o trabalho de um técnico no bairro onde morava, no município de Contagem (MG). Desde a adolescência, alimentava o desejo de trabalhar no Rio de Janeiro. E correu atrás do seu sonho: mudou-se para a cidade em janeiro de 2007, ano dos jogos Pan-Americanos. E foi aí que começou uma nova fase na sua trajetória de brasileiro batalhador.

Para ter onde morar, foi com a cara e a coragem pedir abrigo na casa de conhecidos no bairro de Realengo, zona Oeste. Em troca de um módico aluguel, instalou-se. E começou a prestar serviço de conserto de computadores na Vila Vintém. Circulava na comunidade de bicicleta e com a mochila nas costas. Mas essa rotina não durou muito tempo. Sentindo a barra pesada depois de levar duras de todos os lados, não voltou mais lá. Nem para receber pelos serviços que fez. 

A pressão da realidade na Vila Vintém fez Samuel mudar de ramo: tornou-se então vendedor de curso de inglês. O sotaque mineiro só ajudou a despertar a curiosidade de quem era abordado por ele. Dava muita explicação sobre sua origem, mas não vendia nada. Mais duro que um coco, sem dinheiro pra gastar, um dia caminhou horas e horas de Realengo até o Rio Centro atrás de um novo ganha-pão. Foi aí que se tornou vendedor de pano de chão, num sinal de trânsito próximo ao antigo Porcão, onde hoje é a estação do metrô Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca. E, quando uma pessoa loira se aproximava, ele oferecia seu produto em inglês:

– Would you like to buy floor cloth to help me?

E o "gringo", que raramente era gringo de fato, em geral respondia surpreso:
 
– O quê?  Como? 

A venda de pano de chão garantiu a sua sobrevivência durante quatro meses. Samuel chegou a vender 250 unidades por dia. Até que um cliente o convidou para participar de um projeto social, no qual recebeu orientações para a sua inserção no mercado de trabalho formal. Entre outras coisas, aprendeu a comportar-se numa entrevista de emprego e a elaborar um bom currículo. E foi esse o caminho que o levou ao primeiro emprego de carteira assinada e a retomar o trabalho na área de informática. Uma vez na Defensoria Pública, voltou a estudar e, este ano, completa a graduação no Instituto Infnet. É o primeiro na família a ir tão longe.  



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