Debate sobre a violência e desigualdade de gênero marcou ações da DPRJ no Dia Internacional da Mulher

 

O frenético vai e vem daqueles que passavam pela estação Carioca do MetrôRio, na tarde da última quarta-feira (8), uma cena chamou atenção. Mulheres e homens, em pé ou sentados em cadeiras ou mesmo ao chão, formaram uma grande roda para debater questões como a violência e a desigualdade de gênero. A ação foi promovida pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro e marcou a atuação da instituição no Dia Internacional da Mulher. 

Em parceria com o MetrôRio e o fotógrafo Marcio Freitas, a ação contou também com uma exposição do artista composta por uma série fotográfica de rostos de mulheres brasileiras que sofreram algum tipo de assédio, violência ou abuso sexual. 

Às 6h da manhã, as defensoras do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem) já estavam a postos para prestar atendimento e orientações às mulheres que passavam pela estação. Uma das atendidas havia saído de Muriqui, na região da Costa Verde, após saber da ação em uma reportagem pela televisão.  

No Dia Internacional da Mulher, servidores e estagiários da instituição distribuíram, ao longo do dia, mais de quatro mil panfletos com informações sobre como as mulheres podem denunciar maus-tratos, psicológicos ou físicos, e garantir os seus direitos. 

A roda de conversa, ponto alto da programação, começou às 16h e contou com a participação da defensora Arlanza Rebello, coordenadora de Defesa da Mulher da DPRJ, das defensoras do Nudem Matilde Alonso e Simone Estrellita, assim como da defensora Leticia Furtado, titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher da capital.

Também participaram a defensora Flávia Nascimento, que atua junto ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Gonçalo, o fotógrafo e o público que, no corre-corre da estação, parou para dialogar. O debate foi mediado pela Coordenadora de Comunicação Social da Defensoria, Débora Diniz. Defensoras públicas da administração e de outras áreas de atuação estiveram presentes, bem como servidores. 

O publico ouviu e, sobretudo, se manifestou. 

– Como é o caminho para as vítimas de violência e como é a rede de atenção? – questionou uma jovem estudante de serviço social, que faz estágio na Secretaria Estadual de Administração Penitenciária. 

– O homem não aprendeu nada com a Lei Maria da Penha. O homem não pensa que a lei visa à proteção e não apenas punir. E isso porque as pessoas não sabem respeitar umas as outras e a lei antecedeu este costume social – opinou um estudante de direito. 

– O machismo, na mulher, a aprisiona. No homem, lhe dá privilégios. Se você é mulher e negra, sua condição racial potencializa a violência de gênero – pontuou uma estagiária do Nudem. 

– Sofri um abuso sexual aos 11 anos. Foi do meu tio. A justificativa dele foi de que eu estava seduzindo-o, pois estava de biquíni, tomando banho de piscina, na minha casa. Eu tinha só 11 anos. Fiquei calada durante muito tempo, mas há dois anos, contei para a minha mãe. Ele ainda frequenta a nossa casa – denunciou, corajosamente, uma jovem. 

Na roda de conversa, a defensora Letícia destacou “que o verdadeiro inimigo é o machismo e que, por isso, temos que ter um olhar diferente para com as mulheres que estão ao nosso lado, entendendo que elas têm dores como as nossas” e que só assim poderemos, de fato, começar a mudança. 

Já Arlanza, Coordenadora de Defesa da Mulher, ressaltou os esforços para garantir espaços às mulheres até mesmo dento da Defensoria. Ela afirmou que o “Nudem, através dos anos, tem levado para dentro da instituição a discussão sobre assédio moral e sexual, assim como sobre a cultura do estupro”. A luta pela igualdade, de acordo com ela, é uma constante “já que todos nós estamos inseridos nessa cultura machista”. 

Arlanza destacou ainda o momento difícil do país, com a política pública de enfrentamento à violência contra a mulher sofrendo um verdadeiro desmonte e o surgimento cada vez maior de inúmeras propostas legislativas contrárias ou que mesmo retroagem nos direitos das mulheres. A defensora ressaltou a importância das mulheres se mobilizarem. 

Depois de quase três horas de conversa, a roda desfez-se e os participantes seguiram seus caminhos. Com certeza, mais conscientes de que a luta da mulher importa a toda a sociedade. 

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