Nota de Repúdio

Em lamentável demonstração de machismo associado ao racismo, o prefeito do Rio de Janeiro expôs sua visão acerca das mulheres negras e pobres do Brasil. Reforçando a objetificação do corpo da mulher e ainda o estereótipo da raça, o chefe do Executivo Municipal, ao bradar em público a humilhante ideia que faz de uma cidadã, apenas concretiza em sua fala a assimetria de poder e reconhecimento latente nas relações sociais. O caso não deve ser tratado de forma isolada e jamais poderia ser rotulado como gafe ou piada de mau gosto. Em outras ocasiões, ocupantes de cargos da mais alta cúpula da administração já manifestaram-se publicamente de forma semelhante, ao afirmar que favelas são "fábricas de marginais" e ainda que comunidades carentes têm taxas de natalidade no "padrão África". É tempo de a sociedade enxergar os cruéis rótulos que recaem sobre as mulheres negras brasileiras, que exigem de cada um de nós um posicionamento firme e definitivo, não só contra sujeitos racistas e misóginos, mas sim contra toda a estrutura desigual que submete mulheres negras ao empobrecimento, à invisibilidade, à (hiper)erotização de seus corpos. Os Núcleos de Defesa dos Direitos da Mulher e Contra a Desigualdade Racial da Defensoria Pública, assim como a Comissão de Igualdade Racial da OAB/RJ, repudiam a atitude do prefeito Eduardo Paes e reafirmam seu engajamento na luta contra o racismo e machismo estruturais.

Assinam a nota de repúdio as defensoras públicas Arlanza Rebello e Lívia Casseres, coordenadoras do Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) e o Núcleo Contra a Desigualdade Racial (Nucora), e o advogado Marcelo Dias, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ.



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