Evento realizado na sede da Defensoria do Rio reuniu representantes dos quilombos existentes no estado em homenagem ao legado de Nego Bispo.

Na voz de Elizabeth Fernandes, do Quilombo Baía Formosa, uma canção ecoou pela sede da DPRJ: “(...) Vou fazer uma farinhada, os quilombos vou chamar // Só quem entende de farinha, pode peneirar aqui”. Com palmas ritmadas, o canto da plateia anunciava que o Seminário Quilombola Nego Bispo seria um importante encontro entre os quilombos fluminenses e as autoridades responsáveis por apoiá-los em suas lutas por direitos. Uma delas é a Defensoria Pública do Rio, que destacou o auditório da Fesudeperj para receber o evento.

A agenda do evento trouxe uma mesa de abertura com a presença de Fabiana Silva, ouvidora-geral; Raphaela Jahara, coordenadora de Tutela Coletiva; Daniele da Silva de Magalhães, coordenadora da Promoção da Equidade Racial; Alessandra Bentes, chefe de gabinete; Bia Nunes, presidenta da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ); e Luciene Lacerda, coordenadora e criadora da Campanha dos 21 dias de ativismo contra o racismo. Patrícia Cardoso, defensora pública-geral, também esteve presente e deu as boas-vindas a todos.

—  Esse é um momento de escuta muito importante, e no final nós faremos um documento com os encaminhamentos. Existem defensoras e defensores dedicados à atuação das comunidades quilombolas aqui na DPRJ, é um trabalho que precisa ter visibilidade e ser do conhecimento de vocês. Eu agradeço às autoridades que vieram sabendo que, hoje, quem vai pautar são as lideranças quilombolas. A voz está com vocês! — reforçou Daniele da Silva, coordenadora da Coopera.

Em seguida, na mesa ‘Direitos Quilombolas’, lideranças apresentaram projetos e reivindicações para as autoridades presentes no evento. Durante a escuta ativa, foram frequentes as denúncias de ameaças e perseguições às lideranças quilombolas de cada local. Ao todo, membros da ACQUILERJ estimam que ao menos 22 líderes sofram ameaças graves. 

Além da luta pelo direito à vida, quilombolas relataram dificuldades no acesso à educação infantil e políticas públicas de modo geral, o que foi apontado pela ouvidora geral da DPRJ, Fabiana Silva, como reflexo da invisibilidade: 

— A Defensoria, assim como as outras instituições, tem como obrigação pensar na estrutura desses eventos como um espaço de diálogo e ressignificação das suas práticas. Não podemos achar normal que o Censo de 2022 seja o primeiro a demonstrar que a nossa população quilombola existe e resiste dentro de um cenário de apagamento. Isso leva à ausência de políticas públicas voltadas aos quilombos. — conclui Silva.

Compareceram ao seminário representantes da Procuradoria da República, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), INCRA, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tribunal Regional do Trabalho e Ministério Público do Trabalho. Segundo a Associação de Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro, a ACQUILERJ, existem 53 comunidades quilombolas no estado e, destas, 24 comunidades estiveram presentes no evento. 

O Seminário Quilombola foi batizado com o nome de Nego Bispo em homenagem ao legado do intelectual e ativista, que tinha como perspectiva central os saberes quilombolas e as vitórias do povo negro. 


Veja as fotos do evento aqui.


Texto: Nathália Braga
Fotos: Jhulia Dutton



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