Dados do Sistema Verde apontam que mulheres negras são maioria das pessoas atendidas e que prevalecem ações de Família, especialmente pedidos de pensão alimentícia

 

Mulheres negras, com rendimento mensal de até dois salários mínimos, ensino fundamental incompleto, moradoras da Zona Oeste do município do Rio, em busca de orientação e ajuizamento de ações na área de Família, em especial por pensão alimentícia. Esse é o perfil da maior parte das pessoas atendidas pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, segundo o Anuário 2023 – Ano base 2022.  

A publicação reúne informações estatísticas sobre a atuação da Defensoria ao longo do ano passado e sobre os destinatários de assistência jurídica gratuita e integral em todo o Estado. 

— Os dados do Anuário são fundamentais para que possamos olhar para a instituição de modo amplo. Isso ajuda a dar mais qualidade ao nosso trabalho, a valorizar pontos de destaque e a entender questões que precisem ser melhoradas.  — ressalta a defensora pública-geral, Patrícia Cardoso. 

De janeiro a dezembro, a Central de Relacionamento com o Cidadão (CRC),  canal pelo qual a população agenda atendimentos com a Defensoria, foi acionada mais de 800 mil vezes —  registrando 781.060 chamadas pelo número de ligação gratuita 129, que funciona inclusive nos fins de semana, feriados e recesso forense. Pelo site, foram 101.630 mensagens. 

No mesmo período, o aplicativo Defensoria RJ teve 421.065 vezes downloads, somando 355.830 pessoas atendidas diretamente pela ferramenta, num total de 583.406 interações on-line com defensoras e defensores, servidoras e servidores, o que inclui encaminhamentos de urgência (num total de 32.142).

Presencialmente, foram quase 900 mil atendimentos (mais exatamente 899.842) na capital, na Região Metropolitana e no interior. A Defensoria Pública está nos 92 municípios fluminenses, pelos quais estão distribuídos também residentes jurídicos e estudantes em estágio, principalmente de Direito.  

As equipes da instituição receberam, em 2022, 863.936 novos casos e trabalharam nos mais de 1,5 milhão de processos eletrônicos cadastrados no Verde, sistema de inteligência em que os dados são lançados e permanecem disponíveis para comunicação com programas similares de outros órgãos públicos.

Pelo Verde, é possível constatar que pouco mais da metade (51,3%) dos atendimentos em todo o Estado são na área de Família.  Em 2022, quatro em cada dez novos casos de Família foram relativos à pensão alimentícia — no período, foram iniciadas 27.780 ações judiciais.  Divórcios, consensuais ou litigiosos, são a segunda maior demanda em Família, correspondendo a cerca de 20% da procura.

— Quando olhamos para esses dados e pensamos que a maioria das pessoas atendidas pela Defensoria são mulheres, vemos a importância do olhar para as questões de gênero, interna e externamente. — explica a subdefensora pública-geral institucional, Cíntia Guedes. 

Audiências de custódia, Plantão Noturno e Ouvidoria

A Defensoria Pública do Rio também se faz presente nas audiências de custódia, em que a Justiça avalia a legalidade das prisões em flagrante e verifica eventuais torturas e maus tratos por parte de agentes de segurança. Defensoras e defensores participaram de 25.621 audiências de custódia no ano passado; em cerca de 25% dos casos, houve soltura das pessoas conduzidas a Juízo. 

No Plantão Noturno, em 2022, defensoras e defensores realizaram 3.424 atendimentos, com ingresso de 749 ações por leitos nas redes municipal, estadual e municipal. O índice de cumprimento das tutelas antecipadas concedidas foi de 80%.  

Entes públicos, aliás, continuam sendo grandes litigantes da Defensoria Pública, com destaque para o Município do Rio (réu em 43,4% das ações contra pessoas jurídicas) e para o Estado (réu em 30,5% das ações contra pessoas jurídicas). Light e Ampla são as empresas mais reclamadas. 

O Anuário DPRJ 2023, que está em sua 3ª edição e tem apoio do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur) e da Fundação Escola Superior da Defensoria (Fesudeperj), traz ainda dados sobre a Ouvidoria-Geral Externa.

Aberta à escuta de usuárias e usuários dos serviços da instituição, ponte entre defensores e a sociedade, a Ouvidoria registrou, no ano passado, 14.202 atendimentos, sendo 2.178 de urgência. As mulheres são maioria ainda maior na procura pela Ouvidoria: 63,24%. Mais da metade (55,21%) das pessoas ali atendidas, em 2022, se declararam pretas ou pardas.

Acesse os dados completos do Anuário 2023 aqui.

Texto: Valéria Rodrigues



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