No dia 3 de julho de 2014, o então Soldado Elter Matias, o Sargento De Souza e o Cabo Débora orientavam os motoristas envolvidos num engavetamento de três veículos que havia acontecido na Avenida Brasil, na altura de Realengo. Em meio às explicações sobre o Brat (Boletim de Registro de Acidentes de Trânsito), surgiu um taxista aflito pedindo ajuda: a sua passageira estava em trabalho de parto. Elter recorda o que lhe veio à cabeça naquele momento.

– Com a minha experiência de pai, sei que um trabalho de parto pode demorar horas até o nascimento. Então, mantive a calma e pensei que teríamos tempo suficiente para levar a mulher ao hospital mais próximo dali, o Albert Schweitzer. Mas para nossa surpresa, quando chegamos ao táxi, o bebê estava coroando. Fizemos os procedimentos de urgência e a menina nasceu saudável. Depois, levamos a mãe e a criança para o hospital. Esse parto foi incrível. 

O parto realizado dentro do táxi foi notícia e é apenas uma das histórias que Elter Matias tem para contar da sua vivência de PM. Ele é Cabo da Polícia Militar e, há dois anos, foi cedido para a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Deve ao seu perfil humanista o convite que recebeu do Capitão Carlos, subcoordenador de segurança; e do Major Nascimento, coordenador de segurança da Defensoria Pública, para atuar na instituição. Elter se identifica com a missão da casa:

– A Defensoria era uma instituição que eu não conhecia, mas que aprendi a gostar muito. Hoje eu visto a camisa dessa casa que trabalha na promoção dos direitos humanos e dos direitos de cidadania. A gente também pensa muito em questões de cidadania e nos direitos das pessoas. A verdade mesmo da PM é dar assistência à população, dar suporte em situações críticas. Esse lado do trabalho que envolve conflito, de grande repercussão na mídia, representa menos que 5% do trabalho de um policial  – conta.

Elter Glauber Barboza Matias tem 36 anos de idade. Filho de Eli e Maria Teresa, é casado com Aline e tem um casal de filhos pequenos: o Juan, de 6 anos, e a Marina, de 3. Formado em Geografia, trabalhou por dois anos na rede estadual paulista. Deu aula em escolas de Caraguatatuba, município localizado no litoral norte do estado de São Paulo. Em 2009, devido a problemas de saúde de uma pessoa da família, se viu na obrigação de voltar a morar no Rio de Janeiro. Diante da necessidade de manter o sustento da família, fez o concurso para a Polícia Militar em 2010.

Trabalhou nas UPPs do Pavão-Pavãozinho-Cantagalo (Copacabana) e Jardim Batan (Realengo), na fase inicial do projeto. Dos momentos que vivenciou em comunidades, alguns foram tensos. Teve rajada de metralhadora disparada em sua direção que até hoje não sabe de onde veio. E a triste morte de um companheiro, o Soldado Carrera, que levou um tiro no rosto.

Mas Elter prefere lembrar os bons momentos, como os passeios que realizou com crianças carentes de comunidades. Partiu da sua própria iniciativa e dos companheiros levar grupos de trinta meninos e meninas ao Circo do Marcos Frota, na Quinta da Boa Vista; ao show da Xuxa especial de Natal, no Maracanazinho (2012); e para assistir a peças no Teatro Municipal. Numa dessas ações, ouviu de um menino de comunidade palavras simples que lhe valeram todo o empenho na profissão. Numa realidade de referências e valores confusos, o garoto chegou junto a ele e disse:

– Tio, quando eu crescer quero ser policial igual a você.   

Na Defensoria Pública, o cabo Elter engajou-se no projeto "Acelerando a Escolaridade". É o professor de geografia e história do grupo de moradores de rua que assistem às aulas, na sede da Avenida Marechal Câmara. Sua função principal na casa é a de dar o apoio de segurança.



VOLTAR